Brittany Maynard
descobriu um tumor no cérebro em janeiro.
Diante da piora de sua saúde, ela optou pelo suicídio assistido.
Diante da piora de sua saúde, ela optou pelo suicídio assistido.
Anthony Zurcher Editor do
blog Echo Chambers
Uma jovem americana de 29 anos com
câncer em estado terminal anunciou que dará fim à sua vida em 1º de novembro.
Durante um ano, Brittany Maynard sofreu
fortes dores de cabeça, até ouvir dos médicos, em janeiro passado, que tinha
câncer no cérebro.
Apesar de ter recebido tratamento
durante meses, sua saúde continua a piorar. Por isso, ela decidiu seguir um
caminho diferente.
"Depois de meses de pesquisas,
minha família e eu chegamos a uma conclusão dolorosa: não existe um tratamento
que possa salvar minha vida, e os tratamentos que me foram recomendados
destruiriam o tempo que me resta", ela disse em um artigo que escreveu
para o site da emissora CNN.
Maynard disse que, conforme seu câncer
for piorando, ela pode vir a sentir dores terríveis, que mesmo as drogas mais
fortes talvez não sejam capazes de aliviar.
"Posso desenvolver resistência à
morfina e sofrer mudanças de personalidade, além de perdas verbais, cognitivas
e motoras", afirmou.
"E, como o resto do meu corpo é
jovem e saudável, posso vir a sobreviver fisicamente por um longo período,
mesmo que o câncer já tenha destruído minha mente. Provavelmente, passaria
semanas ou até meses sofrendo no hospital. E minha família teria de assistir a isso."
Permissão para morrer
Maynard e seu marido se mudaram da Califórnia para o Estado do Oregon - um entre cinco Estados americanos onde o suicídio com assistência de médicos é permitido.
Maynard e seu marido se mudaram da Califórnia para o Estado do Oregon - um entre cinco Estados americanos onde o suicídio com assistência de médicos é permitido.
Após se estabelecer como residente no
local, ela teve de provar que tem menos de seis meses de vida.
Agora, a paciente possui uma receita
médica para as drogas que usará para morrer.
Em seu artigo, ela escreveu que pretende
tomá-las no dia 1º de novembro, dois dias após o aniversário de seu marido.
Maynard compartilhou sua experiência com
a entidade sem fins lucrativos Compassion & Choices, que faz pressão por
uma legislação que legalize a eutanásia.
Ela também lançou uma campanha na mídia
onde explica a situação junto com sua família. A campanha inclui um vídeo
publicado no YouTube (assista aqui, em inglês).
Em um determinado momento do vídeo,
Maynard é vista abrindo a bolsa e retirando dois vidros que, presume-se,
conteriam medicamentos para dar fim à sua vida.
"Quando eu precisar, sei que estão
aqui", ela diz para a câmera.
O vídeo foi visto mais de 5,6 milhões de
vezes.
Ela diz que se sente aliviada sabendo
que tem a opção de morrer "nos próprios termos" e quer que outros na
mesma situação tenham acesso a esta alternativa.
A campanha de Maynard reacende a
polêmica sobre a moralidade do suicídio auxiliado por médicos e a perspectiva
de que haja mais legalizações da prática nos Estados Unidos.
"Talvez Maynard não leve seu plano
a cabo no dia 1º de novembro. Estatisticamente, a maioria dos que obtêm
medicamentos para dar fim à própria vida não os utiliza, embora quase todos
relatem sentir-se tranquilos sabendo que têm os comprimidos em mãos",
escreve Meghan Dawn no jornal Los Angeles Times.
"Mas como ela compartilhou sua
decisão com o mundo, seu legado será uma contribuição crucial para discussão a
respeito de como vivemos - e morremos".
O especialista em bioética Arthur Caplan
diz que a história de Maynard tem o potencial de mudar a forma como muitas pessoas,
particularmente os mais jovens, vêem a questão.
"Uma geração inteira está agora
olhando para Brittany e se perguntando por que seus Estados não permitem que
médicos receitem doses letais de drogas para quem está morrendo", Caplan
escreveu para a BBC News.
"Brittany está tendo e terá um
grande impacto sobre o movimento para que medidas sejam apresentadas a
eleitores e legisladores".
Capla acredita que opiniões em torno da
questão do suicídio assistido podem mudar rapidamente, da mesma forma como
mudaram em relação ao casamento entre homossexuais.
Reações
O blogueiro Matt Walsh escreveu na revista americana The Blaze que Maynard é "uma porta-voz muito convincente em prol do suicídio".
O blogueiro Matt Walsh escreveu na revista americana The Blaze que Maynard é "uma porta-voz muito convincente em prol do suicídio".
No entanto, ele afirma estar preocupado
com a reação que ela despertou na imprensa e nas mídias sociais, onde foi
unanimemente elogiada por sua coragem e postura.
"Fico aterrorizado ao pensar que
meus filhos crescerão em uma cultura que venera abertamente o suicídio, com
tanta paixão", ele escreve.
"Se você está dizendo que é digno e
corajoso que uma paciente com câncer se mate, o que você está dizendo aos
pacientes que não se matam?", indaga o jornalista.
Várias pessoas com doenças em fase
terminal se pronunciaram sobre o assunto, oferecendo uma posição crítica em
relação à decisão de Maynard.
"O aspecto mais difícil de um
diagnóstico terminal é não saber quando se morrerá", escreve Maggie
Karner, que também recebeu um diagnóstico de câncer agressivo no cérebro.
Mas Karmer diz que políticas públicas em
relação ao suicídio auxiliado por médicos não deveriam ser centradas em casos
extremos, como o seu e o de Maynard.
O poder (de determinar) vida e morte
deve permanecer nas mãos de Deus, ela escreve.
Outra paciente, Kara Tippetts, que
publicou um livro e tem um blog onde narra sua experiência com um câncer de
mama em estado terminal, escreveu uma carta aberta a Maynard pedindo que ela
reconsidere sua decisão.
"O sofrimento não é a ausência do
bem, não é a ausência da beleza, mas talvez possa ser o lugar onde a beleza
verdadeira possa ser conhecida", ela escreve.
"Contaram uma mentira para você,
uma horrível mentira ao dizerem que a sua morte não será bonita, que o
sofrimento será grande demais".
Ela diz que médicos que receitam
remédios para pôr fim à vida de pacientes estão dando as costas ao juramento de
Hipócrates, um juramentop solene feito por médicos em suas cerimônias de
formatura.
Um dos trechos do juramento diz:
"Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e
entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém".
Tippetts conclui: "Serei parceira
do meu médico na minha morte, será uma jornada bela e dolorosa para nós todos.
Mas, ouça-me - não é um engano - a beleza nos encontrará naquele último
respirar".
Segundo registros, 1.173 pessoas já se
valeram do Death with Dignity Act (Ato pela Morte com Dignidade) para solicitar
receitas de drogas letais no Estado do Oregon.
Deste total, 752 pacientes usaram
medicamentos para morrer.
Maynard diz que planeja gravar um
depoimento em vídeo para os legisladores da Califórnia, que nesse momento
discutem uma lei similar para regulamentar o suicídio com auxílio médico.
Se tudo seguir conforme seus planos, há
grandes chances de que sua mensagem seja entregue aos legisladores
postumamente.
Imagens: Aos 29 anos, a
americana Brittany Maynard descobriu dar fim à própria vida após descobrir
câncer cerebral (Foto: AP)
Em um vídeo online, Maynard diz querer morrer nos seus
'próprios termos' (Foto: The Brittany Maynard Fund)